quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O CURRICULO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA.



ALVES, Fátima Aparecida Borges[1][i]

RESUMO:

A organização da política da educação inclusiva no âmbito do MEC e dos Sistemas de Ensino está sistematizada em três eixos estratégicos, Institucionalização, financiamento (adaptações do espaço físico, materiais, mobiliário, equipamentos e sistemas de comunicação alternativos) e orientações das práticas pedagógicas inclusivas.
No universo do terceiro eixo o currículo escolar é o instrumento essencial para a escola orientar-se na execução das práticas pedagógicas inclusivas. Ele deve preconizar-se na atenção à diversidade da comunidade escolar. Para tanto, faz-se necessário a realização das adaptações com o objetivo de atender as necessidades particulares dos educandos, decorrentes de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender.  Nesse sentido, o termo Necessidades Educacionais Especiais está associado às dificuldades de aprendizagem e não necessariamente vinculado à deficiência.
Palavras chaves – educação inclusiva, currículo, metodologias.

1 BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Segundo os Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva[2] essa modalidade de ensino passou por diversos processos estruturais. Atualmente ela visa proporcionar condições de aprendizagem por meio da valorização das diversas formas de aprender e de compreender o mundo e de dar significados a ele. Para tanto, a gestão do Sistema de Ensino necessita organizar os recursos e serviços para o atendimento especializado e em sala de aula.

A Política está organizada em três eixos: I) Constituição do referencial político e legal da concepção de educação inclusiva; II) Institucionalização da política de financiamento para oferta de recursos e serviços para a eliminação das barreiras no processo de escolarização e III) orientações específicas para o desenvolvimento das práticas pedagógicas inclusiva.

 O terceiro eixo visa orientar os sistemas de ensino sobre a transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior, a promoção do atendimento educacional especializado por intermédio da formação dos professores, assim como dos demais profissionais da educação para a inclusão escolar; a continuidade da escolarização nos níveis mais elevados; a participação da família e da comunidade; acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação e na articulação intersetorial na implantação das políticas públicas.

2  A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ESCOLA

O MEC por intermédio do PAR prioriza a implantação do atendimento especializado através da implantação das Salas de Recursos Multifuncionais, da formação dos professores e implantação dos Centros Especializados. As redes de Ensino Público devem garantir o acesso e a permanência dos educandos na escola. Para tanto, necessitam garantir a matrícula na escola regular desses educandos, lotação de professores auxiliares e cuidadores quando for o caso. Já as unidades de ensino competem organizar e adaptar o currículo e as metodologias para a educação inclusiva.

2.1 Adequações Curriculares
Segundo as teorias educacionais o currículo é a ferramenta primordial para a organização didática do processo ensino e aprendizagem, o qual deve ser construído a partir da seleção do conhecimento e reinterpretação das práticas vivenciadas em dinâmicas sociais, políticas, culturais, intelectuais e pedagógicas. O conceito de currículo escolar está em permanente construção SACRISTÁN (2000). Para BERNSTEIN (1980) o currículo define e considera o conhecimento válido e as formas pedagógicas de transmissão, assim como a avaliação define e considera como realização válida de tal conhecimento.

O Currículo é um ponto central de referência na melhoria da qualidade do ensino, na mudança das condições da prática, no geral e nos projetos de inovação dos centros escolares. (SACRISTÁN, pág.32, 2000).

No âmbito político administrativo, o currículo escolar é concebido pelos poderes estabelecidos, nele está prescrito como obrigatório para um nível educativo etc, e/ou referências a serem observadas na realização da educação escolar, a exemplo dos Referenciais Curriculares Nacionais, Estaduais e Municipais, Resoluções e Pareceres dos Conselhos de Educação nas diversas esferas administrativas.

Resumindo, SACRISTÁN (2000) ressalta que o currículo é a “expressão da função socializadora da escola”, o instrumento que cria toda uma gama de uso imprescindível para compreender a prática pedagógica e está estreitamente relacionado com o conteúdo da profissionalização dos docentes.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (1998) preconiza atenção à diversidade da comunidade escolar partindo do pressuposto que a realização das adaptações visa atender as necessidades particulares dos educandos, decorrentes de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender.  Nesse sentido, o termo “Necessidades Educacionais Especiais” está associado a dificuldades de aprendizagem e não necessariamente vinculado à deficiência (s).

Segundo Elizabet Dias de Sá[3] as adaptações curriculares propostas pelos parâmetros podem ser agrupadas em organizativas, objetivos/conteúdos e avaliativas. O primeiro engloba o agrupamento dos educandos, a organização didática da aula com características adequadas aos interesses, habilidades e necessidades dos sujeitos, coerência na ordenação didática, flexibilidade, multiplicidade e abrangência regional, assim como a disponibilidade de mobiliário, materiais didáticos e tempos flexíveis.

O segundo define como prioridade áreas e conteúdos de acordo com a funcionalidade; ênfase nas capacidades dos educandos (habilidades básicas de atenção, participação e adaptabilidade); sequencia gradativa de conteúdos prioritários em detrimento dos secundários menos relevantes, do mais simples para o mais complexo. O terceiro agrupamento orienta que a seleção de técnicas e instrumentos deve ser de acordo com a identificação das necessidades educacionais especiais dos educandos.

Quanto aos procedimentos didáticos para as atividades de ensino-aprendizagem o documento dos parâmetros curriculares remete a necessidade em alterar a seleção de métodos, níveis de complexidade das tarefas, adoção de atividades complementares, prévias e alternativas, utilizando recursos de apoio com adaptação dos materiais e a temporalidade também deve ser flexível no que se refere à duração e ao período das atividades propostas.

2.2 – Adaptações metodológicas
Considerando o nível de complexidade, alguns teóricos recomendam adoção de metodologias que propiciem: o ensino cooperativo entre professores e equipe pedagógica, aprendizagens cooperativas utilizando-se da tutoria entre pares; resolução problemas, desenho espontâneo, formação de grupos heterogêneos para a gestão da diversidade na sala de aula, por meio de trabalho sistematicamente planejado, supervisionado e avaliado.

Para os educandos com deficiências ou com altas habilidades faz-se necessário a elaboração do Plano Educativo Individual (PEI) com base no currículo do núcleo comum orientado por áreas curriculares e formas alternativas de aprendizagem para apoiar a inclusão de alunos com necessidades especiais educacionais. Estes modelos visam ensinar os educandos na resolução de problemas.

3  BREVE RELATO DE EXPERIÊNCIAS

 A Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, localizada no Distrito de Taquaruçu, Palmas/TO possui uma Sala de Recursos Multifuncionais bem como recebeu adequações arquitetônicas para a implantação da inclusão no ensino regular. Ressalta-se que também reformulou o seu Projeto Político Pedagógico visando alinhar todos os programas implantados na escola com a proposta pedagógica. Entretanto, a falta de um PEI para a inclusão escolar dificulta o processo ensino e aprendizagem na sala regular.

O desafio no momento é para a elaboração dos Planos individuais com as devidas adequações curriculares/metodológicas com o objetivo de melhorar a qualidade da educação inclusiva. Inicialmente, a equipe escolar optou em elencar as habilidades básicas gerais para a escolarização dos educandos com deficiências, com o objetivo de nortear a práxis do professor regente.

A partir dessa iniciativa observou que o professor regente sentiu-se mais confiante em planejar as suas aulas, com o auxílio do professor especialista na adaptação dos materiais para aplicação das atividades para cada tipo de deficiência.



4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sugere-se que a escola organize momentos de estudo da coleção da Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar, publicada pelo Ministério da Educação, em 2010. Os estudos podem ser organizados nos dias pedagógicos e/ou na formação continuada dos professores. Acredita-se que não há receita pronta e que cabe a cada equipe escolar descobrir o melhor caminho para ensinar e aprender, por meio das descobertas sobre a capacidade do ser humano em superar as suas limitações.

Bibliografia consultada:

BRASIL, Coleção a Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Especial, Brasília, DF; Fortaleza: Universidade Federal Universidade Federal do Ceará, 2010.

BRASIL, Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Especial, Brasília, DF, 2010.

PALMAS, Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, Secretaria Municipal da Educação de Palmas, Tocantins, 2011.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares/Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial. - Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998.
Sites:


[1] É professora da Rede Municipal de Ensino de Palmas. Atualmente, atua como supervisora educacional.




ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS E PROJETO DE VIDA



ALVES, Fátima Borges Alves[1]

O conceito de alfabetização de adultos vem sendo construído ao longo dos anos. Inicialmente, consideravam alfabetizadas as pessoas que frequentavam alguns meses de escola e desenvolvessem a leitura e a escrita em nível rudimentar, acreditando que elas estariam aptas a empregar esse conhecimento em proveito próprio. No entanto, após o período do letramento, ocorre com a maior parte delas o fenômeno conhecido como regressão ao analfabetismo.  
Atualmente, considera-se alfabetizada a pessoa que sabe aplicar as habilidades da leitura e da escrita no cotidiano da vida. Não basta apenas aprender a decifrar e a grafar os códigos linguísticos por um curto espaço de tempo, mas as que utilizam no cotidiano, na formação permanente.  Assim, para passar da condição de analfabeta para a condição de alfabetizada, faz-se necessário incorporar a linguagem escrita em sua vida. Nesse sentido, os objetivos da alfabetização passam a ser também ensinar a função social da linguagem escrita e como podemos usá-la no cotidiano do dia a dia.
Assim, o processo de letramento deve compreender não apenas a memorização das relações entre os códigos e sons, mas ainda a vivência da linguagem escrita em ação. Sugere-se que a organização pedagógica contemple as três dimensões: a individual, a profissional e a social. A primeira trata-se do desenvolvimento da capacidade de buscar seu potencial pleno e se desenvolver, aprendendo sobre si mesmo e sobre o mundo. Na segunda, a abordagem sobre a necessidade da formação continuada em razão do mundo globalizado, às vezes é preciso requalificar para ingressar no mercado de trabalho e na terceira, o aprender a conviver juntos, desenvolvendo a capacidade de trabalhar em grupo, conforme orienta o Ministério da Educação.
Para tanto, alfabetizar nessa perspectiva requer a participação proativa dos educandos no processo de ingresso no mundo letrado, por meio da aquisição das competências mínimas fundamentadas nos quatro Pilares da Educação (UNESCO,1996): aprender a aprender (Competência pessoal), aprender a fazer (Competência Produtiva), aprender a conhecer (Competência cognitiva) e aprender a conviver juntos (Competência Social). A metacognição é uma ferramenta eficaz na promoção dessas competências, no sentido do protagonismo da sua trajetória escolar e da vida.

O que uma pessoa se torna ao longo da vida depende de duas coisas, das oportunidades e das escolhas que fez. (COSTA, 1996).

Para aplicar essa ferramenta faz-se necessário o educando saber onde está e aonde quer chegar, com o objetivo dele reconhecer, listar e autoavaliar o tamanho do esforço necessário para atingir a condição de alfabetizado, lembrando o conceito de alfabetização mencionada anteriormente. A partir desse conceito como meta, elevar o educando a refletir dentre os esforços a reeducação dos hábitos, da vontade, da motivação para alcançar esse objetivo, visando auxiliá-lo no protagonismo da sua alfabetização, como inicio de um novo Projeto de Vida.
É bom ressaltar que para a promoção da reeducação, segundo o educador social Paiva Netto (2010, pg.148), torna-se imprescindível uma grande força de vontade individual e disciplina interior para romper os óbices e perceber que a maior e mais completa de todas as riquezas é o conhecimento, fundamentados na premissa do educador celeste, o Cristo ecumênico: Buscai o reino de Deus e sua justiça que todas as coisas vos serão acrescentada[2].  

Propõe-se como estratégia para iniciar o processo de letramento do adulto a elaboração do Projeto de vida, com abrangência das 03 (três) dimensões: individual, profissional e social. Na dimensão individual, sugere-se que seja abordada a reflexão sobre noções de quem somos na nossa complexidade: física, intelectual, emocional e espiritual. Na dimensão profissional, refletir sobre o mundo do trabalho e as oportunidades de empregabilidade por meio do empreendedorismo, cooperativismo, economia solidária dentre outros e na dimensão social destacar a responsabilidade socioambiental.
Inicialmente, por meio de desenhos espontâneos os educandos devem elaborar as metas de reeducação de hábitos de consumo, de pensamentos, sentimentos e atitudes para a melhoria da qualidade de vida, a curto, médio e longo prazo e as guardar no seu Portfólio. Posteriormente, o alfabetizador deve reservar momentos de avaliação periódica das metas do Projeto de Vida. No final do Curso, rever o Projeto com os educandos e substituir os desenhos pela escrita, motivando-os a usar a autoavaliação, a escrita e a leitura como recursos para a sua formação continuada durante toda a sua vida.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL: Educação: um tesouro a descobrir, 6ª ed. São Paulo, Editora Cortez, Brasília, DF, MEC: UNESCO, 2001.
BRASIL; Educação de Jovens e Adultos, Salto para o Futuro,Brasília, DF, MEC/SED, 1999.
BELLO, Susan, Pintando a Alma, 3ª edição, Rio de Janeiro, RJ, Editora Wak, 2007.
COSTA, Antônio Carlos Gomes, Tempo de Servir: Protagonismo Juvenil, Belo Horizonte, Editora Universidade, 2001.
NETTO, José de Paiva, É Urgente Reeducar, São Paulo, Editora Elevação, 2010.
A


[1] Pedagoga e supervisora educacional da Secretaria Municipal de Palmas
[2] Fonte: Bíblia Sagrada, Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 17:21.