quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O CURRICULO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA.



ALVES, Fátima Aparecida Borges[1][i]

RESUMO:

A organização da política da educação inclusiva no âmbito do MEC e dos Sistemas de Ensino está sistematizada em três eixos estratégicos, Institucionalização, financiamento (adaptações do espaço físico, materiais, mobiliário, equipamentos e sistemas de comunicação alternativos) e orientações das práticas pedagógicas inclusivas.
No universo do terceiro eixo o currículo escolar é o instrumento essencial para a escola orientar-se na execução das práticas pedagógicas inclusivas. Ele deve preconizar-se na atenção à diversidade da comunidade escolar. Para tanto, faz-se necessário a realização das adaptações com o objetivo de atender as necessidades particulares dos educandos, decorrentes de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender.  Nesse sentido, o termo Necessidades Educacionais Especiais está associado às dificuldades de aprendizagem e não necessariamente vinculado à deficiência.
Palavras chaves – educação inclusiva, currículo, metodologias.

1 BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Segundo os Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva[2] essa modalidade de ensino passou por diversos processos estruturais. Atualmente ela visa proporcionar condições de aprendizagem por meio da valorização das diversas formas de aprender e de compreender o mundo e de dar significados a ele. Para tanto, a gestão do Sistema de Ensino necessita organizar os recursos e serviços para o atendimento especializado e em sala de aula.

A Política está organizada em três eixos: I) Constituição do referencial político e legal da concepção de educação inclusiva; II) Institucionalização da política de financiamento para oferta de recursos e serviços para a eliminação das barreiras no processo de escolarização e III) orientações específicas para o desenvolvimento das práticas pedagógicas inclusiva.

 O terceiro eixo visa orientar os sistemas de ensino sobre a transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior, a promoção do atendimento educacional especializado por intermédio da formação dos professores, assim como dos demais profissionais da educação para a inclusão escolar; a continuidade da escolarização nos níveis mais elevados; a participação da família e da comunidade; acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação e na articulação intersetorial na implantação das políticas públicas.

2  A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ESCOLA

O MEC por intermédio do PAR prioriza a implantação do atendimento especializado através da implantação das Salas de Recursos Multifuncionais, da formação dos professores e implantação dos Centros Especializados. As redes de Ensino Público devem garantir o acesso e a permanência dos educandos na escola. Para tanto, necessitam garantir a matrícula na escola regular desses educandos, lotação de professores auxiliares e cuidadores quando for o caso. Já as unidades de ensino competem organizar e adaptar o currículo e as metodologias para a educação inclusiva.

2.1 Adequações Curriculares
Segundo as teorias educacionais o currículo é a ferramenta primordial para a organização didática do processo ensino e aprendizagem, o qual deve ser construído a partir da seleção do conhecimento e reinterpretação das práticas vivenciadas em dinâmicas sociais, políticas, culturais, intelectuais e pedagógicas. O conceito de currículo escolar está em permanente construção SACRISTÁN (2000). Para BERNSTEIN (1980) o currículo define e considera o conhecimento válido e as formas pedagógicas de transmissão, assim como a avaliação define e considera como realização válida de tal conhecimento.

O Currículo é um ponto central de referência na melhoria da qualidade do ensino, na mudança das condições da prática, no geral e nos projetos de inovação dos centros escolares. (SACRISTÁN, pág.32, 2000).

No âmbito político administrativo, o currículo escolar é concebido pelos poderes estabelecidos, nele está prescrito como obrigatório para um nível educativo etc, e/ou referências a serem observadas na realização da educação escolar, a exemplo dos Referenciais Curriculares Nacionais, Estaduais e Municipais, Resoluções e Pareceres dos Conselhos de Educação nas diversas esferas administrativas.

Resumindo, SACRISTÁN (2000) ressalta que o currículo é a “expressão da função socializadora da escola”, o instrumento que cria toda uma gama de uso imprescindível para compreender a prática pedagógica e está estreitamente relacionado com o conteúdo da profissionalização dos docentes.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (1998) preconiza atenção à diversidade da comunidade escolar partindo do pressuposto que a realização das adaptações visa atender as necessidades particulares dos educandos, decorrentes de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender.  Nesse sentido, o termo “Necessidades Educacionais Especiais” está associado a dificuldades de aprendizagem e não necessariamente vinculado à deficiência (s).

Segundo Elizabet Dias de Sá[3] as adaptações curriculares propostas pelos parâmetros podem ser agrupadas em organizativas, objetivos/conteúdos e avaliativas. O primeiro engloba o agrupamento dos educandos, a organização didática da aula com características adequadas aos interesses, habilidades e necessidades dos sujeitos, coerência na ordenação didática, flexibilidade, multiplicidade e abrangência regional, assim como a disponibilidade de mobiliário, materiais didáticos e tempos flexíveis.

O segundo define como prioridade áreas e conteúdos de acordo com a funcionalidade; ênfase nas capacidades dos educandos (habilidades básicas de atenção, participação e adaptabilidade); sequencia gradativa de conteúdos prioritários em detrimento dos secundários menos relevantes, do mais simples para o mais complexo. O terceiro agrupamento orienta que a seleção de técnicas e instrumentos deve ser de acordo com a identificação das necessidades educacionais especiais dos educandos.

Quanto aos procedimentos didáticos para as atividades de ensino-aprendizagem o documento dos parâmetros curriculares remete a necessidade em alterar a seleção de métodos, níveis de complexidade das tarefas, adoção de atividades complementares, prévias e alternativas, utilizando recursos de apoio com adaptação dos materiais e a temporalidade também deve ser flexível no que se refere à duração e ao período das atividades propostas.

2.2 – Adaptações metodológicas
Considerando o nível de complexidade, alguns teóricos recomendam adoção de metodologias que propiciem: o ensino cooperativo entre professores e equipe pedagógica, aprendizagens cooperativas utilizando-se da tutoria entre pares; resolução problemas, desenho espontâneo, formação de grupos heterogêneos para a gestão da diversidade na sala de aula, por meio de trabalho sistematicamente planejado, supervisionado e avaliado.

Para os educandos com deficiências ou com altas habilidades faz-se necessário a elaboração do Plano Educativo Individual (PEI) com base no currículo do núcleo comum orientado por áreas curriculares e formas alternativas de aprendizagem para apoiar a inclusão de alunos com necessidades especiais educacionais. Estes modelos visam ensinar os educandos na resolução de problemas.

3  BREVE RELATO DE EXPERIÊNCIAS

 A Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, localizada no Distrito de Taquaruçu, Palmas/TO possui uma Sala de Recursos Multifuncionais bem como recebeu adequações arquitetônicas para a implantação da inclusão no ensino regular. Ressalta-se que também reformulou o seu Projeto Político Pedagógico visando alinhar todos os programas implantados na escola com a proposta pedagógica. Entretanto, a falta de um PEI para a inclusão escolar dificulta o processo ensino e aprendizagem na sala regular.

O desafio no momento é para a elaboração dos Planos individuais com as devidas adequações curriculares/metodológicas com o objetivo de melhorar a qualidade da educação inclusiva. Inicialmente, a equipe escolar optou em elencar as habilidades básicas gerais para a escolarização dos educandos com deficiências, com o objetivo de nortear a práxis do professor regente.

A partir dessa iniciativa observou que o professor regente sentiu-se mais confiante em planejar as suas aulas, com o auxílio do professor especialista na adaptação dos materiais para aplicação das atividades para cada tipo de deficiência.



4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sugere-se que a escola organize momentos de estudo da coleção da Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar, publicada pelo Ministério da Educação, em 2010. Os estudos podem ser organizados nos dias pedagógicos e/ou na formação continuada dos professores. Acredita-se que não há receita pronta e que cabe a cada equipe escolar descobrir o melhor caminho para ensinar e aprender, por meio das descobertas sobre a capacidade do ser humano em superar as suas limitações.

Bibliografia consultada:

BRASIL, Coleção a Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Especial, Brasília, DF; Fortaleza: Universidade Federal Universidade Federal do Ceará, 2010.

BRASIL, Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Especial, Brasília, DF, 2010.

PALMAS, Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, Secretaria Municipal da Educação de Palmas, Tocantins, 2011.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares/Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial. - Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998.
Sites:


[1] É professora da Rede Municipal de Ensino de Palmas. Atualmente, atua como supervisora educacional.




ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS E PROJETO DE VIDA



ALVES, Fátima Borges Alves[1]

O conceito de alfabetização de adultos vem sendo construído ao longo dos anos. Inicialmente, consideravam alfabetizadas as pessoas que frequentavam alguns meses de escola e desenvolvessem a leitura e a escrita em nível rudimentar, acreditando que elas estariam aptas a empregar esse conhecimento em proveito próprio. No entanto, após o período do letramento, ocorre com a maior parte delas o fenômeno conhecido como regressão ao analfabetismo.  
Atualmente, considera-se alfabetizada a pessoa que sabe aplicar as habilidades da leitura e da escrita no cotidiano da vida. Não basta apenas aprender a decifrar e a grafar os códigos linguísticos por um curto espaço de tempo, mas as que utilizam no cotidiano, na formação permanente.  Assim, para passar da condição de analfabeta para a condição de alfabetizada, faz-se necessário incorporar a linguagem escrita em sua vida. Nesse sentido, os objetivos da alfabetização passam a ser também ensinar a função social da linguagem escrita e como podemos usá-la no cotidiano do dia a dia.
Assim, o processo de letramento deve compreender não apenas a memorização das relações entre os códigos e sons, mas ainda a vivência da linguagem escrita em ação. Sugere-se que a organização pedagógica contemple as três dimensões: a individual, a profissional e a social. A primeira trata-se do desenvolvimento da capacidade de buscar seu potencial pleno e se desenvolver, aprendendo sobre si mesmo e sobre o mundo. Na segunda, a abordagem sobre a necessidade da formação continuada em razão do mundo globalizado, às vezes é preciso requalificar para ingressar no mercado de trabalho e na terceira, o aprender a conviver juntos, desenvolvendo a capacidade de trabalhar em grupo, conforme orienta o Ministério da Educação.
Para tanto, alfabetizar nessa perspectiva requer a participação proativa dos educandos no processo de ingresso no mundo letrado, por meio da aquisição das competências mínimas fundamentadas nos quatro Pilares da Educação (UNESCO,1996): aprender a aprender (Competência pessoal), aprender a fazer (Competência Produtiva), aprender a conhecer (Competência cognitiva) e aprender a conviver juntos (Competência Social). A metacognição é uma ferramenta eficaz na promoção dessas competências, no sentido do protagonismo da sua trajetória escolar e da vida.

O que uma pessoa se torna ao longo da vida depende de duas coisas, das oportunidades e das escolhas que fez. (COSTA, 1996).

Para aplicar essa ferramenta faz-se necessário o educando saber onde está e aonde quer chegar, com o objetivo dele reconhecer, listar e autoavaliar o tamanho do esforço necessário para atingir a condição de alfabetizado, lembrando o conceito de alfabetização mencionada anteriormente. A partir desse conceito como meta, elevar o educando a refletir dentre os esforços a reeducação dos hábitos, da vontade, da motivação para alcançar esse objetivo, visando auxiliá-lo no protagonismo da sua alfabetização, como inicio de um novo Projeto de Vida.
É bom ressaltar que para a promoção da reeducação, segundo o educador social Paiva Netto (2010, pg.148), torna-se imprescindível uma grande força de vontade individual e disciplina interior para romper os óbices e perceber que a maior e mais completa de todas as riquezas é o conhecimento, fundamentados na premissa do educador celeste, o Cristo ecumênico: Buscai o reino de Deus e sua justiça que todas as coisas vos serão acrescentada[2].  

Propõe-se como estratégia para iniciar o processo de letramento do adulto a elaboração do Projeto de vida, com abrangência das 03 (três) dimensões: individual, profissional e social. Na dimensão individual, sugere-se que seja abordada a reflexão sobre noções de quem somos na nossa complexidade: física, intelectual, emocional e espiritual. Na dimensão profissional, refletir sobre o mundo do trabalho e as oportunidades de empregabilidade por meio do empreendedorismo, cooperativismo, economia solidária dentre outros e na dimensão social destacar a responsabilidade socioambiental.
Inicialmente, por meio de desenhos espontâneos os educandos devem elaborar as metas de reeducação de hábitos de consumo, de pensamentos, sentimentos e atitudes para a melhoria da qualidade de vida, a curto, médio e longo prazo e as guardar no seu Portfólio. Posteriormente, o alfabetizador deve reservar momentos de avaliação periódica das metas do Projeto de Vida. No final do Curso, rever o Projeto com os educandos e substituir os desenhos pela escrita, motivando-os a usar a autoavaliação, a escrita e a leitura como recursos para a sua formação continuada durante toda a sua vida.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL: Educação: um tesouro a descobrir, 6ª ed. São Paulo, Editora Cortez, Brasília, DF, MEC: UNESCO, 2001.
BRASIL; Educação de Jovens e Adultos, Salto para o Futuro,Brasília, DF, MEC/SED, 1999.
BELLO, Susan, Pintando a Alma, 3ª edição, Rio de Janeiro, RJ, Editora Wak, 2007.
COSTA, Antônio Carlos Gomes, Tempo de Servir: Protagonismo Juvenil, Belo Horizonte, Editora Universidade, 2001.
NETTO, José de Paiva, É Urgente Reeducar, São Paulo, Editora Elevação, 2010.
A


[1] Pedagoga e supervisora educacional da Secretaria Municipal de Palmas
[2] Fonte: Bíblia Sagrada, Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 17:21.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A EDUCAÇÃO PARA TODOS & AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO

ALVES, Fátima Aparecida Borges[1]

A educação para todos é uma conquista recente do povo brasileiro. Essa realidade começou a ser implantada a partir dos anos de 1990. Inicialmente, com foco no ensino fundamental e nos dias atuais para toda a educação básica inclusive para a educação infantil. Dentre os objetivos visa reduzir as desigualdades sociais.
Até bem pouco tempo bastava à pessoa ser alfabetizada e ter acesso a uma boa biblioteca para obter informação sobre o conhecimento acumulado pela humanidade. Observa-se que a aquisição da escrita e da leitura não é suficiente para os dias atuais, sem associá-las às tecnologias.
 Segundo MORIN (1977) o conhecimento fragmento está a serviço de uma falsa racionalidade de incertezas e contradições, para ele faz-se necessário a religação dos saberes. A multi e transdisciplinaridade possibilitam o reconhecimento da multireferencialidades sobre o conhecimento. Para tanto, continuar o processo de  aquisição do conhecimento por métodos fragmentados nas escolas é aumentar as desigualdades sociais.
A multi/transdisciplinaridade só é possível com o uso dos recursos mediáticos. A educação precisa ser uma conquista para todos conforme os princípios constitucionais, para tanto, necessita associar a alfabetização da escrita e da leitura com a das TDIC. Caso contrário, a ofertar da educação básica não vai cumprir seu objetivo constitucional em reduzir as desigualdades sociais, o efeito escola será insignificante na vida dos seus educandos.
Partindo desse pressuposto o Programa Um Computador por aluno (UCA) é uma estratégia que poderá contribuir significativamente na combinação das duas alfabetizações, da escrita e da leitura, bem como a das TDIC, conforme relato de algumas professoras no item 2.1. Entretanto, para a implantação desse programa a escola passou por várias readequações, dentre elas a do espaço físico e dos equipamentos, assim como a do seu Projeto Político Pedagógico.
O grande desafio para qualquer ser humano é a desconstrução das velhas práticas por novas práticas. Na educação é mais difícil quando ela acontece ao mesmo tempo entre docentes e discentes. Pois, a relação de poder entre eles ficam fragilidades sob o ponto vista das velhas práticas, em que o professor é detentor do saber.
Ao implantar o Programa os profissionais da educação passam pela segunda alfabetização digital ao mesmo tempo em que seus educandos e isso têm gerado certo desconforto, pois há educandos com mais conhecimento sobre o equipamento do que os seus professores. Contudo, alguns professores encaram esses fatores com certa naturalidade, conforme relato de algumas experiências no item 2.1.

1 PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM
Segundo diversos pesquisadores a aprendizagem acontece processualmente por meio da construção simbólica do conhecimento. Ela acontece no dia a dia da experiência humana formal e/ou informalmente. A educação formal acontece na escola e se dá em conformidade com os níveis cognitivos de todas as faixas etárias.
O processo de aquisição da língua escrita acontece nos primeiros anos do ensino fundamental. E não tem sido uma tarefa fácil, pois as avaliações externas, dentre elas a Prova Brasil tem mostrado que o percentual de educandos em nível adequado de aprendizagem no país/estado/município/escola é baixo, segundo os parâmetros estabelecidos por essa avaliação.
Segundo FERREIRO (2010) o desafio para a aquisição da língua escrita está em associá-la à leitura, com exercício de visualização dos antecedentes e ao conhecimento em que se aprende na escola, assim como nas interações com outros sem ser explicitamente ensinados. São essas as condições em que favorecem a aprendizagem no sentido amplo que não é só aprender a grafar as palavras, mas também interpretá-las sobre os seus significados nas relações sociais no cotidiano.
No âmbito da alfabetização digital segundo PONTES JUNIOR (2009) é quase inexistente a identificação das competências exigidas para o processo de alfabetização digital, com o objetivo de capacitar os sujeitos em saberes/competências informacionais que ofereçam condições de aprendizagem continuada, por toda a sua vida e utilizem dos meios disponibilizados pelos recursos mediáticos, tais como localizar, selecionar, organizar, processar, recuperar e fazer uso da informação para satisfazer uma necessidade intelectual, e/ou funcional.
Observa-se que os meios oportunizados por esses recursos complementam e aceleram o processo da alfabetização mencionado por FERREIRO (2010) no sentido amplo, pois possibilitam a interação com diversas culturas locais regionais e globais, principalmente com o uso dos computadores e celulares ligados à internet.
Com eles é possível grafar a escrita e imagens, em cores e movimentos com diferentes velocidades e conceitos interdisciplinares. Possibilitam a contextualização com vivências locais, regionais e globais imediatas, quando se tem uma boa conectividade, enquanto que os recursos antes disponíveis (lápis ou caneta, papel e livros) requer muito esforço e tempo para a pesquisa e a escrita.
Pensar metodologicamente o uso da tecnologia como meio para aquisição da leitura e da escrita associadas ao conhecimento é o grande X da questão. É preciso desconstruir para construir um novo processo de ensino e aprendizagem. Como aprender usando esses recursos? Quais são suas possibilidades de aprendizagem nos diversos níveis de ensino? Como interagir o velho e o novo? Qual é o papel do professor? Qual é o conceito da alfabetização digital na educação básica? São muitas as interrogações.
Ambos os processos com recursos estáticos e/ou dinâmicos promovem a construção das estruturas mentais na aquisição do conhecimento, por meio da aquisição da leitura e da escrita. O processo de ensino passa pelos mesmos estágios e sentimentos, partindo do pressuposto que, ao longo da história, a humanidade busca adquirir o conhecimento com o objetivo de satisfazer suas necessidades. Nesse sentido, PONTES JUNIOR (2009) cita a organização do conhecimento, segundo KUHLTHAU, 1991, no âmbito dos estágios cognitivos ao descrever o processo de busca do conhecimento, utilizando-se dos meios informacionais digitais, conforme tabela 1.


TABELA 1 – SENTIMENTOS COMUNS A CADA ESTÁGIO PARA AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO.



ESTÁGIOS
TAREFA APROPRIADA
SENTIMENTOS COMUNS A CADA ESTÁGIO
1.     Iniciação
Reconhecer a necessidade da informação
Insegurança
2.     Seleção
Identificar um tema geral
Otimismo
3.     Exploração
Investigar as informações sobre o tema geral
Confusão, frustação, dúvida.
4.     Formulação
Formular o foco
Clareza
5.     Coletar a informação
Reunir as informações pertencentes ao foco.
Senso de direção e confiança.
6.     Apresentação
Completar a busca de informação.
Alívio, satisfação e desapontamento.
Fonte: A organização do conhecimento, (KUHLTHAU, 1991), citado por PONTES JUNIOR (2009).

Observa-se que os sentimentos em ambos os processos estático ou dinâmico parecem ser os mesmos, em cada estágio, tanto para quem utiliza dos meios tecnológicos (lápis, caneta, borracha, livros, retroprojetor, xerox, etc) tanto para quem usa os recursos digitais ligados à internet (computadores/celulares, etc). A diferença é o tempo/espaço para acessar o conhecimento, com maior mobilidade e acessibilidade que eles oferecem na sala de aula. Recentemente, foi conteúdo dos meios de comunicação sobre o perfil da geração atual X das anteriores. A geração atual possui capacidades cognitivas diferentes dos seus antepassados, pois pensam rápidos e fazem várias coisas ao mesmo tempo. Nesse sentido, os recursos digitais são necessários para satisfazer as necessidades da geração atual, caso contrário à escola não possui nenhum encantamento para os seus educandos.



2 CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA UM COMPUTADOR POR ALUNO (UCA) NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM.
O Programa Um Computador por Aluno (UCA) do governo federal, em parceria com as secretaria estaduais, municipais e universidades, possibilita aprendizagens por meio das interações explicitamente ensinadas na escola, com vistas a desenvolver competência do aprender a aprender, pois os educandos são estimulados a buscar o conhecimento por meio de outras interações fora do ambiente da escola, na sala de aula, através da Rede Mundial de computadores (internet).
A Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, localizada no Distrito de Taquaruçu é uma das escolas Piloto desse Programa. Ao longo do primeiro ano de implantação do Programa na Escola tive a oportunidade de aprender, assim como compartilhar vivências entre os profissionais dessa escola, por ocasião da organização do seu Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP).
Nesse sentido, estando supervisora educacional dessa escola coordenei a reestruturação do PPP, por intermédio dos encontros da formação continuada, com duração de 80h, por acreditar que a transformação só acontece por meio da participação dos sujeitos, sistematizada em uma estratégia de ação/reflexão/ação, conforme ensina Paulo Freire.
A formação foi organizada em módulos, sendo que o produto final dessa formação é a elaboração do documento preliminar do PPP, o qual já se encontra disponível no blog da escola: http://escolacrispim.blogspot.com/. Esses encontros aconteceram paralelamente com a capacitação do Programa UCA, oferecida pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, (PUC), em parceria com a Universidade Federal do Tocantins, Secretaria Municipal da Educação e outros não menos importantes, tendo como formador desse Curso, o professor Demerval Almeida.
A participação dos profissionais dessa escola nos cursos mencionados acima, sendo o primeiro presencial e a segundo semipresencial, foi fundamental para uma nova organização pedagógica, com vistas em cumprir o seu papel social naquela comunidade. Mediante o exposto, pode-se afirmar que a implantação do UCA na Escola Mul Crispim trouxe profundas transformações na sua forma de educar.
Identificou-se como situações problemas no âmbito social, a presença das drogas, prostituição infanto-juvenil, dentre outras. No ambiental, degradação da flora e da fauna na Área de Preservação ambiental (APA) onde está localizado o Distrito de Taquaruçu, ocasionadas pela exploração do ecoturismo desordenado e no educacional, altas taxas de reprovação e de distorção idade/série, dentre outros.
Para o enfrentamento dessa problemática a proposta pedagógica está organizada por área do conhecimento, orientadas por eixos articulador, temáticos e transversais. A tecnologia é um dos eixos transversais no sentido mais amplo. Ele visa promover reflexões sobre a cultura escolar e a cultura midiática. Para tanto, o PPP estabeleceu às diretrizes para orientação do eixo tecnológico.
A primeira diretriz é a mobilidade para o uso do computador e da Rede Mundial de Computadores em sala de aula, a qualquer momento em que o professor e educando sentirem necessidades para produzirem respostas sobre conceitos e aplicabilidade sobre o conteúdo\conhecimento estudando.
A segunda trata-se da autoaprendizagem por meio da reflexão e observação da recepção e respostas que os recursos mediáticos produzem nas aprendizagens dos educando e sua interação na cultura local e na identidade dos sujeitos.
a terceira é a cidadania e autoformação que visa estimular a autoformação com uso dos recursos mediáticos na sua aprendizagem, de forma autônoma e consciente do uso racional desses recursos, tanto para os estudos quanto para o lazer.
A quarta diretriz visa dar visibilidade sobre as aprendizagens adquiridas utilizando-se dos recursos mediáticos, através da produção de vídeos, exposição de folders, fotografias, textos nos eventos da escola etc, com a participação da família e a quinta e última trata sobre a comunicação das aprendizagens, por meio da educomunicação: produção do Jornal Mural, Rádio-escola, blogs etc.

2.1  APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS MEDIÁTICOS PELOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Considerando os estágios da tabela 1 e os relatos de experiência de professores a seguir, pode-se estimar o nível 3  (três) para a maior parte dos profissionais envolvidos na implantação do UCA nesta escola: exploração com nível de sensação confusa, dúvida e algumas frustações, mas confiantes nas próximas etapas de desenvolvimento cognitivo. Vale ressaltar, que a reforma e a falta da internet na escola dificultaram significativamente o bom desempenho do Programa.
(...) Com os alunos do 1º ano foi usado o kwor para digitação com o objetivo de reconhecer letras, palavras e melhorar a escrita e a leitura. (...) No 5º ano foi utilizado nas disciplinas de Português, Matemática o kword e o paint com o objetivo de trabalhar a concentração, a ortografia, a leitura e a agilidade na escrita. (...) O uso do Paint é um momento maravilhoso, cada um usa sua imaginação e cria cada desenho, em seguida eles usam e abusam dos recursos de pintura que esse programa oferece; eles ficam emocionados com as suas próprias criações. (...)
(...) outro momento maravilhoso foi quando eles receberam autorização para levarem os laptops para casa, com atividades pré-estabelecidas. Depois houve um momento para a socialização das tarefas feitas em casa, cada um expôs suas dificuldades. (...) Os pais também tem relatado que os filhos ficam horas com laptops, explicam aos irmãos ou mesmo aos pais de como utilizá-los, dos cuidados etc. (...).
(...) Eu enquanto professora ainda tenho muita dificuldade em trabalhar com o laptop, tenho dificuldade em buscar informações na internet, mas tenho tentado e estou também aprendendo com eles, quando eu falo que não sei eles estão prontas a me ajudar dentro das possibilidades deles. Gostaria de receber ajuda quanto ao uso dos sites com atividades, dentro do nível dos alunos.
Marilene Soares.
(...) No segundo semestre de 2010 e no ano de 2011, algumas atividades referentes aos conteúdos do currículo escolar foram desenvolvidas pelos alunos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental com o objetivo de desenvolver a leitura e escrita. (...) Não foi possível trabalhar outras atividades com outras ferramentas por falta de acesso a internet, pois a EU está em reforma e no pavilhão não acessava. (...).
Professora Soneide.

No âmbito da aprendizagem dos educandos a maior parte está no nível 1, pois então na fase de reconhecimento da necessidade da informação, com sentimento de insegurança, pois ainda tem como necessidade o entretenimento (jogos e redes sociais).



3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que o primeiro ano da implantação do UCA  foi dedicado à organização pedagógica, administrativa e estrutural da unidade educacional. Foi um passo muito importante, graças a Deus conseguimos. Agora é seguir o caminho traçado de forma dialética, ação/reflexão/ação até alcançar a excelência na educação e fazer diferença na vida de todos educandos matriculados na escola. Sinto-me realizada e agradecida pela oportunidade de estudar e trabalhar com a família Crispim e UCA Nacional e Estadual.



4  BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS

CITELLI, Adilson, Outras Linguagens Na Escola, SP, Cortez Editora, 1999.


FERREIRO Emília, ABC com todas as Letras, SP: Cortez Editora, 2010.

OUROFINO, Maria Isabel, Guia da Escola Cidadã: Mídias e Mediação Escolar, Instituto Paulo Freire, SP:Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005. – Guia da escola cidadã; v.12).

MORIN, Edgar, A religação dos Saberes: o desafio do século XXI, tradução e notas, Flávia Nascimento, 5ª ed. RJ: Bertrand Brasil, 2005.

MORIN, Edgar, Educar na era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana, elaborado pela Unesco, por Edgar Morin, Emílio Roger Ciurana, Raúl Domingo Motta; tradução Sandra Trabucco Valenzuela: SP: Cortez; Brasília: UNESCO, 2003.

PASSOS, Ilma Passos (org), Projeto Político-Pedagógico da Escola uma Construção Possível, 14ª Edição, Campinas, SP, Papirus Editora, 1995.

PRADO, Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida & ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini, O Computador Portátil Na Escola, Avercamp Editora, 20011.

PALMAS, Relatos de Experiências dos professores da Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, Coordenação do UCA na Escola, 2011.
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[1] Pedagoga, especialista em gestão educacional, atualmente está supervisora educacional da Escola Municipal Crispim Pereira Alencar e coordenadora do UCA na Secretaria Municipal da Educação, do município de Palmas, Tocantins.